Edificações mistas, de uma forma geral, são aquelas que operam predominantemente de forma passiva, mas que de acordo com a necessidade dos ocupantes podem recorrer à utilização do condicionamento artificial. Tais edifícios, ao oferecer a oportunidade de controle aos seus ocupantes, se tornam mais eficientes, reduzem os problemas relacionados à qualidade interna do ar e, assim, resultam em níveis mais altos de satisfação térmica. Embora o número de edificações mistas tenha crescido significativamente nos últimos anos, existe pouca informação a respeito do desempenho e da forma como elas são operadas. Nesse contexto, o principal objetivo deste trabalho é avaliar as condições de conforto térmico em edificações que operam sob o modo misto de condicionamento, comparando-as às edificações que operam com sistemas centrais durante todo o ano, reunindo informações valiosas para a futura proposição de um método de avaliação no contexto brasileiro. Para este fim, foram selecionadas edificações comerciais que operam com os dois tipos de sistemas discutidos, onde se mediram as variáveis ambientais (temperatura do ar, velocidade do ar, temperatura de globo e umidade relativa do ar) simultaneamente ao preenchimento de questionários, aplicados a partir de um software desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE/UFSC). Coletou-se um total de 2.688 votos subjetivos relacionados à percepção térmica e da velocidade do ar (1.274 em uma edificação com sistema central, e 1.414 em duas edificações com sistemas mistos), que envolveram todas as estações do ano de 2014. Os resultados apontaram diferenças pouco significativas entre os dois tipos de edificações analisadas, se considerados os votos de sensação, conforto e aceitabilidade térmica. No entanto, a temperatura neutra preferida apontou diferenças de 1,1°C entre os dois tipos de edificações, e de 2,6°C entre os dois modos de operação observados em edificações com sistemas mistos (ar condicionado vs. ventilação natural). Entre os gêneros, idades e condições físicas consideradas, estas diferenças atingiram 3,0°C ± 0,5°C. Os dados coletados em edificações que funcionam de forma mista mostraram que a sensação e a preferência térmica, além da preferência pela velocidade do ar, são dependentes do modo de operação e variam significativamente quando se transita entre um modo e outro. Concluiu-se ainda que a memória térmica é um fator de grande importância na escolha pela estratégia de climatização ambiental dos ocupantes, enquanto o método proveniente do modelo adaptativo foi considerado o mais eficaz para a avaliação de conforto térmico em edificações que operam de forma mista.
Palavras-chave: Conforto térmico, sistemas mistos de climatização, clima temperado e úmido.