Contexto

O Brasil apresenta um alto déficit habitacional, estimado em aproximadamente 7 milhões, com uma incidência notadamente urbana, ao redor de 80% do total de habitações necessárias. A maior porcentagem desta população está concentrada em rendas inferiores a 3 salários mínimos.

Esta parcela de baixa renda ocupa na sua grande maioria comunidades localizadas em áreas de risco, de preservação permanente e mangues; causando impactos ambientais, ao tempo que muitas vezes são desprovidos dos serviços básicos de água, esgoto e energia. E quando estes serviços são fornecidos são pagos preços muitas vezes não compatíveis à renda familiar.

No Brasil, cerca de 44 % da energia elétrica consumida destina-se ao abastecimento das edificações em geral enquanto somente as residenciais demandam em torno de 22 % do consumo de energia elétrica do país. No setor habitacional os principais consumos de energia elétrica, por ordem de importância na media nacional, são: refrigeração (27% que corresponde ao uso da geladeira e freezer), aquecimento de água (24% que corresponde principalmente ao uso do chuveiro elétrico como principal fonte atual de aquecimento no setor), condicionamento de ar (em torno de 20%) e a iluminação (14%).

As necessidades dos usos finais de energia elétrica apresentam diferenças regionais, dado que o país por sua grande extensão possui diferentes climas, sendo o uso do aquecimento de água mais relevante na região sul, sudeste e centro-oeste do país. Para o aquecimento de água nas residências unifamiliares se presenta como a melhor solução o uso de energia solar, por tratar-se de uma fonte de energia renovável e cuja tecnologia é de fácil acesso e relativo baixo custo. Mas a incorporação desta tecnologia de forma integrada às casas não é sempre possível, pois as nas habitações não estão sempre localizadas com orientação e inclinação do telhado ideal de forma a colocar o painel solar para o seu aproveitamento máximo (ao Norte verdadeiro com variação de mais ou menos 25o e com inclinação na latitude local mais 10o para o máximo aproveitamento no inverno na região sul). Para suprir isto, programas implantados pelo governo para divulgação desta tecnologia neste setor, buscaram uma maior flexibilidade através da colocação da placa solar aliada a estruturas leves que permitisse diferentes posições de colocação. Estes programas levaram a alguns casos de insucesso devido à retirada destes equipamentos pelos próprios usuários para comercialização.

A água é outro dos recursos com grandes problemas no setor da baixa renda, onde aproximadamente 20% da população não têm acesso à água potável, já que de forma geral não são considerados nos projetos das habitações sistemas seguros de aproveitamento de água de chuva como recurso complementar alternativo. Sendo que o país apresenta muitas regiões com índices pluviométricos elevados e constantes, situação ideal para a sua utilização. E quando considerado um sistema de aproveitamento de água de chuva, geralmente é feito por meio de cisternas enterradas que se bem mantêm a temperatura da água mais fria e ocupam menos espaço, podem apresentar desvantagens como dificuldade de detecção de vazamento e infiltração, o que pode causar comprometimento da qualidade da água. Quando é fornecido o sistema de abastecimento de água através da rede pública, é gasta água potável para fins não potáveis que correspondem a aproximadamente 50% do consumo de água numa residência, como descarga de vasos sanitários, tanques para lavar roupa e irrigação de jardim, entre outros. O abastecimento também comumente apresenta descontinuidade, pelo que é necessária e lei o uso de caixa de água potável para armazenamento. Em muitas residências e nos projetos fornecidos pelo governo a caixa é interna à casa sob o telhado, muitas vezes subdimensionadas, apresentam desconforto devido à baixa pressão pela pouca altura, dificuldade de acesso para manutenção, prejuízos se houver eventuais vazamentos e quando não são bem vedadas pode ser comprometida a qualidade da água.

Esta situação tem levado a que sejam construídas pelos usuários estruturas improvisadas externas à casa para colocar a caixa de água potável, geralmente com volumes que não superam os 300L. Sem correto dimensionamento estrutural ficam com falta de segurança, tubulações externas e aparentes ao sol, gerando desgaste pelos raios ultravioletas. Isto pode apresentar comprometimento da água pela possível falta de vedação e aquecimento excessivo. E o reservatório exposto que na maioria das vezes é de fibra de vidro pode comprometer a sua vida útil. Há também um comprometimento estético das residências, sendo que quando melhorada a renda das famílias e quer-se aumentar o volume do reservatório de água potável, podem ser criados problemas de impermeabilização no telhado.

Os projetos para suprir o déficit habitacional brasileiro são fornecidos em grande parte pelo governo através da COHAB (Companhia de habitação). Esta tem representação em cada estado e trabalha viabilizando projetos unifamiliares e multifamiliares para o setor de baixa renda, especialmente das rendas de 1 a 5 salários mínimos. Os projetos são desenvolvidos de forma padronizada com diversas metragens e possibilidades de ampliação, aplicáveis a vários locais e diferentes orientações, com muito pouca consideração a adaptações locais.

O estado de Santa Catarina, cuja capital é Florianópolis, tem como principal executor da política habitacional a Cohab-SC. Um dos programas habitacionais executados por esta organização, o Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social - P.S.H, destina-se a melhoria das habitações unifamiliares da população com renda familiar de e 1 a 3 salários mínimos. O objetivo desse programa é manter as pessoas no local em que residem, ao invés de deslocalas para um conjunto habitacional.

O Laboratório de Eficiência Energética (LabEEE) da Universidade Federal da Santa Catarina (UFSC) faz parte de um projeto de pesquisa nacional “Tecnologias para a construção habitacional mais sustentável” , cujo objetivo é desenvolver soluções adequadas à realidade brasileira, para tornar a sua construção habitacional mais sustentável, através de manuais e metodologias de avaliação de projeto. O foco está nos conjuntos habitacionais unifamiliares de interesse social e na construção autogerida, e dois dos autores do projeto da torre proposta participam desse projeto na área de Energia.

Ao estar-se trabalhando nesse projeto quis-se buscar uma forma de aplicação prática desse trabalho de pesquisa, para o qual foi criada uma parceria entre a COHAB-SC e o LabEEE, para a melhoria das habitações unifamiliares propostas pela COHAB-SC. O pedido inicial da COHAB-SC foi trabalhar dentro do programa do PSH na adequação do projeto básico residencial unifamiliar de 36m2 e 42m2 para soluções que contemplassem critérios de eficiência energética e um uso racional da água, com soluções que não implicassem em grandes custos nem mexessem de maneira significativa o projeto com o projeto pré-concebido pela COHAB-SC.

O desempenho térmico da casa foi melhorado, adaptando-a aos requisitos recomendados pela NBR 15220-3 para a zona bioclimática 3 (Florianópolis). A premissa das casas poderem ser edificadas em qualquer orientação, dificulta a implementação de estratégias mais específicas em relação à incidência solar e ventos, razão pela qual tinham que ser soluções mais genéricas. Estas alterações eram de mais fácil implementação em novas habitações, pelo que pareceu mais importante concentrar-se na idéia de um produto que pudesse também melhorar as habitações já existentes.

A limitante econômica é bastante importante neste setor, onde as casas de 36m2 e 42 m2 têm uma grande parte do seu custo financiado pelo governo e outra parte paga pelas famílias a longo prazo. Este orçamento apertado faz com que as casas muitas vezes sejam feitas em etapas, pelo que foi pensado na alternativa de um elemento “kit de sustentabilidade” que representa-se uma poupança em água e energia para a família e pude-se ser igualmente incorporado em uma etapa posterior à casa, servindo assim tanto para construções novas como existentes, surgindo assim a proposta da torre.



 


 
 

 
 

 

No setor residencial, o aquecimento de água através do chuveiro elétrico, representa em média 24% do consumo de energia elétrica do Brasil. Para esta finalidade o uso de aquecimento solar de água, resultaria em uma significativa economia de energia elétrica e de recursos naturais.

No Brasil cerca de 20% da população não tem acesso à água potável, sendo que, em torno de 50% do consumo residencial são destinados para fins não potáveis. Para estes usos a água da chuva de captação direta poderia ser uma alternativa viável para muitos locais e situações.

Neste contexto e através de uma parceria com a Cohab de Santa Catarina para incorporação de conceitos de sustentabilidade relativos a eficiência energética e aproveitamento de água de chuva nos projetos de habitações mínimas da Cohab SC, desenvolveu-se um produto apropriado, principalmente, para habitações de baixa renda que poderia ser utilizado tanto para novas como para habitações já existentes: uma torre sustentável, com múltiplos usos, composta por: reservatório elevado de água de abastecimento potável, coletor solar para aquecimento de água de banho e, um sistema de aproveitamento de água de chuva.