A cidade de Brasília, situada no Planalto Central do Brasil, é caracterizada pelo clima Tropical de Altitude, de acordo com a classificação de Köppen, onde são identificadas duas estações nitidamente distintas: quente e úmida (outubro a abril) e seca (maio a setembro).
Identifica-se, em Brasília, uma dificuldade na incorporação dos princípios bioclimáticos desde as etapas iniciais de projeto e um dos obstáculos é a carência de dados climáticos atualizados voltados para o projeto bioclimático. Dessa forma, foi realizada a caracterização do clima da cidade, com base em dados atualizados de um período de dezesseis anos, e a análise bioclimática dos dados obtidos, como forma de oferecer subsídios à concepção arquitetônica, acrescendo a seus objetivos a busca pelo conforto térmico e melhor desempenho energético das edificações. Através da análise bioclimática foram identificadas as estratégias bioclimáticas mais adequadas às solicitações do clima, para edificações em Brasília. Podemos citar a ventilação, a inércia térmica, o resfriamento evaporativo e a redução dos ganhos de calor através do sombreamento e da reflexão, para a situação de calor, e a inércia térmica com aquecimento solar passivo, para a situação de frio.
Procurou-se avaliar o potencial de algumas das estratégias bioclimáticas identificadas, para edifícios de escritório, buscando alternativas que contribuíssem de forma efetiva para o conforto térmico dos usuários e que tornassem possível a aplicação de sistemas passivos e mais econômicos de climatização. Dessa forma, realizou-se a avaliação do edifício da Câmara Legislativa do Distrito Federal, entre fevereiro e junho de 2001, que demonstra, na proposta arquitetônica empregada, clara intenção de adaptação ao clima local. A arquitetura do edifício promove a circulação e renovação do ar interno através de divisórias duplas, com entrada de ar pelo piso e saída pela área central da cobertura. Além de utilizar “cortinas” de vegetação nas fachadas e pátio interno, e grandes beirais para proteção da fachada contra radiação solar direta.
Foram implementadas no edifício as estratégias de resfriamento evaporativo por microaspersão, o isolamento térmico da cobertura, o uso de cor branca na cobertura e a alteração do sistema de renovação do ar. Para verificação do potencial destas estratégias na manutenção do conforto térmico no edifício foi feita uma análise comparativa de dados de temperatura e umidade medidos entre salas sujeitas a diferentes sistemas e situações. Através da análise comparativa entre salas modificadas e não modificadas foi possível verificar a eficiência das soluções empregadas na proposta arquitetônica do prédio e a melhor resposta obtida com os sistemas de resfriamento evaporativo e de isolamento térmico, para a minimização do desconforto por calor.
Essas constatações demonstram que, para o clima de Brasília, mesmo em edifício com ganhos internos relativamente elevados, é possível garantir baixos percentuais de desconforto através de um projeto adequado e do uso de sistemas passivos de baixo consumo.