Zoneamento bioclimático brasileiro para fins de edificação

Autor:
Antonio César Silveira Baptista da Silva
Orientador:
Prof. Miguel Aloysio Sattler
Resumo:

A conservação das riquezas naturais de nosso planeta, além de ser uma questão ambiental da atualidade, é uma questão econômica que vem assolando o mundo por algumas décadas. 

Países desenvolvidos de todo o mundo têm buscado medidas disciplinares para conter o consumo de energia elétrica no setor industrial, no residencial, no comercial e no de transportes [CARVALHO, 1983]. 

O consumo energético no setor de edificações se dá na produção dos materiais, no transporte destes para a obra, na construção, no uso e na manutenção das  condições de habitabilidade. Na manutenção destas condições, um edifício mal  projetado pode consumir, em sua vida útil, uma quantidade de energia muitas vezes  maior do que todo o conteúdo energético dos materiais que foram utilizados para  construí-lo [MASCARÓ, 1983]. 

Como descreve MEIR (1989), a internacionalização da arquitetura  desvinculou o projeto do entorno climático onde este seria implantado, causando desta forma a destruição dos padrões tradicionais locais. Com o avanço da tecnologia, os  aquecedores e condicionadores de ar compactos passaram a oferecer alto grau de  conforto interno a estes edifícios descompromissados com o entorno, a tal ponto que o  clima passou a ser ignorado quando da realização do projeto [WATSON e LABS,  1983].

No Brasil, a climatização artificial tem sido utilizada de forma  indiscriminada em projetos irresponsáveis, que ignoram o ambiente climático com a  intenção de manter um status de "alto padrão econômico". Embora o Brasil de maneira  geral tenha enormes reservas hidroelétricas, acumulando cerca de 20% das reservas mundiais para somente 2,5% da população mundial, não possui meios financeiros para usufruir desta condição particular [MASCARÓ, 1983]. Além disso, não se deve esquecer que a produção de energia é, de maneira geral, um processo que polui e agride o meio ambiente, tão intimamente ligado à qualidade de vida na Terra, e que toma, nos últimos anos, posição de destaque nas preocupações da humanidade. Mesmo as hidroelétricas, que parecem passivas, quando de um projeto racional, modificam, além da paisagem, da fauna e da flora, as condições climáticas de regiões inteiras, fugindo a qualquer previsão possível de suas conseqüências.

Bem mais grave do que o descompromisso energético das edificações de "alto padrão econômico" é o descompromisso humano das habitações da população de "baixa renda". O déficit habitacional de cerca de 12 milhões de unidades impulsiona os "programas de habitação popular" que se fundamentam em construir rápido, com baixo  custo e em grande quantidade. 

Como descreve MASCARÓ (1991), sob esse pretexto de baixo custo, são cometidas as maiores atrocidades em termos de conforto e salubridade na habitação.  Milhares de habitações são construídas sem qualquer compromisso com o usuário, como se estas fossem um favor isento de responsabilidade. A técnica e materiais  empregados são da mais baixa qualidade, regidos por um fator econômico descompromissado com o bem-estar dos usuários, não havendo legislação que evite esta  situação. 

No Brasil, a documentação normativa nesta área, se restringe a poucos  dispositivos que não atendem às necessidades dos projetistas, não só porque não estão  elaborados de forma a instrumentalizar com eficiência o meio técnico mas,  principalmente, porque não consideram de forma adequada às diferenças climáticas e  sócio-econômicas entre as várias regiões brasileiras [ALUCCI, 1988]. A inexistência de  tal documentação vem se refletindo na forma desastrosa com que importamos  alternativas construtivas muitas vezes inadequadas a nossa realidade, uma vez que não  existem critérios que permitam distinguir o adequado do inadequado. 

Ano de defesa: