O consumo de energia elétrica relacionado ao conforto térmico ambiental vem crescendo em edificações residenciais nas últimas décadas. Este aumento tem como uma de suas causas o comportamento dos usuários, seja um efeito da ocupação, pelo uso de eletrodomésticos, ou pela busca de um ambiente mais confortável com o uso equipamentos como ventiladores, condicionadores de ar (CA) ou ainda aquecedores elétricos, no inverno. Segundo Stazi, Naspi e D’orazio (2017), o comportamento do usuário é influenciado tanto por fatores sociais, contextuais, ambientais quanto fisiológicos. Assim, o principal objetivo desta pesquisa é avaliar o impacto de fatores socioeconômicos (fatores sociais, econômicos e regionais – clima) no comportamento relacionado ao conforto térmico em edificações residenciais. Para tanto a pesquisa foi dividida em duas etapas. Na primeira, buscou-se compreender o comportamento do usuário no âmbito nacional, analisando a percepção do usuário frente aos seus hábitos cotidianos, e também o impacto do clima nesta relação. A pesquisa nacional, baseada na aplicação de questionários, contou com 3.272 respostas provenientes de 281 cidades, englobando as cinco regiões do país. A segunda etapa, realizada em Florianópolis, procurou analisar o comportamento a partir do monitoramento das condições climáticas, temperatura e umidade dos ambientes internos, e de questionários online simultâneos a essas medições. O monitoramento contou com 51 residências e 92 voluntários que responderam aos questionários online de sensação térmica e adaptação. Os resultados apontaram que os comportamentos adaptativos dos usuários ocorrem de forma diferente ao longo do ano. Enquanto os ventiladores têm maior uso nos períodos de temperaturas altas, pico de 83,3% de uso a 31 °C, a adaptação por meio do vestuário é mais intensa no período intermediário frio (maio, setembro e outubro), com variação de 0,58 clo, seguido pelo período frio (junho a agosto), com variação de 0,29 clo. Por outro lado, o uso de condicionadores de ar e a operação de janelas tem maior correlação com a temperatura do ar e independem do período do ano. A abertura das janelas, além de ser um comportamento comum ao longo do ano, foi apontada como a principal forma de adaptação ao desconforto por calor (69,5%). Este fato é consequência direta da preferência por ambientes ventilados naturalmente pela maioria dos usuários (89%). A preferência do usuário é um dos fatores que impactou tanto nas estratégias adotadas pelos usuários, como o uso mais intenso do CA por aqueles que preferem ambientes condicionados, quanto no padrão de uso deste equipamento. Os usuários que preferem ambientes condicionados tendem a utilizar o equipamento com maior frequência, maior tempo de uso, por mais meses ao ano e com menor temperatura de setpoint. O clima é outra condição determinante do comportamento do usuário: climas mais severos induzem ao uso de equipamentos. Por exemplo, o clima extremamente quente apresentou o uso mais intenso do CA, enquanto o clima ameno foi o único a apresentar o uso mais expressivo de aquecedores no período frio. O clima, juntamente com a renda, impacta na posse dos equipamentos; assim, as faixas de renda mais altas e os climas mais quentes apresentam a maior posse de CA (93,2%). Em relação a análise das diferenças de comportamento decorrentes do gênero dos usuários verificou-se que as mulheres tendem a optar mais por operar as janelas e adequar seu vestuário como formas de adaptação ao desconforto térmico. Contudo, nos períodos mais quentes, ao utilizar o CA optam por temperaturas, em média, 1° C maior que a utilizada pelos homens. Com base nos resultados, concluiu-se que os usuários de edificações residências são ativos na sua adaptação, com comportamentos diferentes em função do clima, da faixa de renda, gênero e preferências individuais. Dessa forma, percebe-se a importância de que as edificações permitam esta interação entre o usuário e os ambientes, reconhecendo a preferência por ambientes naturalmente ventilados e o hábito de abrir janelas para esse fim.
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