Revisão da NBR 16.401-2: Conforto Térmico

Atualmente, a avaliação de conforto térmico em ambientes internos é feita principalmente segundo a norma americana ASHRAE 55 (última revisão publicada em 2017), que trata unicamente das condições térmicas ambientais para a ocupação humana (ASHRAE 55 - Thermal environmental conditions for human occupancy). Existem ainda outras normas, como a última revisão da ISO 7730 de 2005, focada principalmente no modelo de Fanger (1970) e no cálculo do PMV/PPD (ISO 7730 - Moderate thermal environments – calculation of the PMV and PPD indices) e a norma europeia EN 15251 revisada em 2012, que além do conforto térmico, trata ainda da qualidade interna do ar, iluminação e acústica (EN 15251 - Indoor environmental input parameters for design and assessment of energy performance of buildings: addressing indoor air quality, thermal environment, lighting and acoustics). 

No Brasil, não existem normas específicas para a avaliação de conforto térmico. As normas que envolvem alguns dos parâmetros de conforto térmico para espaços internos se restringem à versão de 1990 da Norma Regulamentadora NR 17 – Ergonomia (NR 17, 1990), e a parte dois da NBR 16401 – Instalações de ar-condicionado – sistemas centrais e unitários, revisada em 2006 e publicada pela última vez em 2008 (ABNT, 2008). Ambas as normas não incluem nenhuma menção ao modelo adaptativo, e limitam as condições de conforto térmico aos ambientes comerciais que operam com intervalos restritos de temperatura e velocidade do ar.

Este projeto surgiu de uma pesquisa em que o principal objetivo foi a revisão das melhores práticas em termos de normas de conforto térmico em todo o mundo, propondo ao final um esboço inicial para a discussão/criação de uma norma Brasileira de conforto térmico. As idéias iniciais foram apresentadas na conferência de Windsor 2010 (Cândido et al., 2010) e posteriormente expandidas no  BRI (Cândido et al., 2011). O texto proposto foi enviado ao Comitê Brasileiro de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABNT/CB-055), editado e incorporado à parte 2 da NBR 16401. Atualmente, aguarda a abertura para consulta pública e posterior publicação após o fechamento das revisões relativas às demais partes.  

Sobre a NBR 16.401 (2008), parte 2 - Conforto Térmico 

A NBR 16401 (2008) é uma revisão que cancelou e substituiu a antiga NBR 6401 de 1980, focada no projeto de instalações de ar condicionado (parte 1), nos parâmetros de conforto térmico em ambientes condicionados (parte 2) e na qualidade do ar interior (parte 3). Apesar de ser uma norma bastante detalhada no que diz respeito aos parâmetros de conforto térmico em espaços internos, os limites de temperatura e velocidade do ar são restritos, e, por esse motivo, adequados para ambientes climatizados artificialmente e com rígido controle de velocidade e umidade relativa do ar. A norma se baseia fundamentalmente no ASHRAE Handbook Fundamentals de 2005 (ASHRAE, 2005) e define temperaturas operativas internas que variam de 22,5°C a 25,5°C (para umidade relativa de 65%), e 23,0°C a 26,0°C (para umidade relativa de 35%). Os limites de velocidade do ar são conservadores, e podem não representar adequadamente a realidade de espaços condicionados que possuem novas tecnologias de condicionamento artificial e circulação de ar. Assim, para esta norma, e durante os períodos mais quentes do ano (0,5 clo), a velocidade do ar não deve ultrapassar 0,20 m/s quando o sistema de distribuição de ar é convencional (grau de turbulência de 30 a 50%), e 0,25 m/s para distribuição de ar por sistema de fluxo de deslocamento (grau de turbulência inferior a 10%). Durante os períodos mais frios (1,0 clo), estes mesmos limites podem ser delineados da seguinte forma: a temperatura operativa e a umidade relativa devem estar dentro da zona delimitada por 21,0°C e 23,5°C para 60% e, 21,5°C e 24,0°C para 30% de umidade. A velocidade do ar neste caso não deve ultrapassar 0,15 m/s para distribuição de ar convencional, e 0,20 m/s para distribuição de ar por sistema de fluxo de deslocamento.

Contatos

Roberto LambertsRenata De Vecchi.

Referências

ABNT. Instalações de ar-condicionado - Sistemas centrais e unitários - Parte 2: Parâmetros de conforto térmico, NBR 16401-2. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2008.

ASHRAE. ASHRAE Handbook: Fundamentals - SI edition, Chapter 8, Thermal Comfort. Atlanta, Ga.: American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning, Atlanta, Ga.: ASHRAE, 2005.

ASHRAE STANDARD 55. Thermal environmental conditions for human occupancy. Atlanta, Georgia: American Society of Heating Refrigerating and Air-Conditioning Engineers, 2017.

CÂNDIDO, C. et al. Towards a Brazilian standard for naturally ventilated buildings: guidelines for thermal and air movement acceptability. Proceedings of 6th Windsor Conference: Adapting to Change: New Thinking on Comfort. Anais...Cumberland Lodge, Windsor, UK. 9-11 April 2010.

CÂNDIDO, C. et al. Towards a Brazilian standard for naturally ventilated buildings: guidelines for thermal and air movement acceptability. Building Research & Information, v. 39, n. 2, p. 145–153, 2011. 

EN 15251. Indoor environmental input parameters for design and assessment of energy performance of buildingsaddressing indoor air quality, thermal environment, lighting and acoustics. CEN, Brussels.

FANGER, P. O. Thermal comfort - analysis and applications in environmental engineering. Copenhagen: Darlish Techinical Press, 1970.

ISO 7730. Ergonomics of the thermal environment: analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria. Geneva, Switzerland: International Organization for Standardization, 2005. 

NR 17. Norma Regulamentadora 17 - Ergonomia. Ministério do Trabalho, 1990.