O clima da cidade é regido não somente pelo clima regional, mas também pelas alterações provocadas na estrutura urbana. A paisagem urbana, por não ser uniforme, provoca diferenças no microclima que tendem a afetar o desempenho térmico de uma edificação e, por conseguinte, o seu consumo de energia elétrica.
A simulação pode fornecer subsídios rápidos e econômicos para previsão do consumo e de condições de conforto, a partir do conhecimento dos sistemas de aquecimento e resfriamento do edifício, bem como de suas características construtivas e de uso. É então, uma ferramenta que deve ter suas alternativas de uso avaliadas para estimar com maior precisão o desempenho térmico de uma edificação e fornecer subsídios concretos sobre o procedimento mais adequado para cada caso estudado. Uma das variáveis intervenientes na simulação do consumo de energia elétrica é o arquivo climático utilizado. Este apresenta diferenças quando medido em estações climáticas distintas de uma mesma cidade de acordo com a localização da estação na paisagem urbana, o que reflete em diferenças de consumo nos edifícios simulados.
O presente trabalho visa avaliar as diferenças de consumo de edificações simuladas em sítios distintos em uma mesma cidade e em diferentes anos através do uso de arquivos climáticos horários cujos dados foram medidos em mais de um ano nas estações climáticas localizadas nestes sítios. Foi utilizado o VisualDOE 2.61 para simular dois protótipos de edificações: um mais sensível às variações do ambiente externo – com grande área de janela na fachada, sem brises, alto coeficiente global de transmissão de calor das paredes e telhado – e outro menos sensível – com pequena área de janela, grande área de alvenaria, com brises horizontais e baixo coeficiente global de transmissão de calor, dentre outras características a densidade de carga interna. Três cidades que continham duas ou mais estações climáticas com dados disponíveis foram selecionadas: Rio de Janeiro, Manaus e Florianópolis. De um total de 92 arquivos climáticos, foram selecionados 20 arquivos climáticos cujo critério foi a disponibilidade de dados climáticos registrados nas 8760 horas do ano. Dados climáticos ausentes foram interpolados para completar as horas necessárias para simular o consumo em um ano completo. Fatores climáticos como nebulosidade foram adotados para duas estações da mesma cidade quando estes não estavam registrados no arquivo climático. A radiação solar em Florianópolis foi estimada através de dados de nebulosidade na estação que não mediu a radiação solar. No Rio de Janeiro e em Manaus, cidades cujas estações não mediram a radiação solar, coeficientes mensais da equação usada para Florianópolis foram ajustados para estimar a radiação global através da nebulosidade horária tendo dados do Atlas de Irradiação Solar do Brasil (COLLE E PEREIRA, 1998).
O resultado dos consumos indicou diferenças entre sítios que variam em função do tipo de dado climático. Em sítios onde houve diferenças de radiação solar entre os arquivos climáticos provenientes de diferentes estações, a diferença de consumo dos protótipos entre sítios foi alta, chegando a 18 %. Em sítios onde não houve diferenças de radiação solar entre os arquivos climáticos, as diferenças de consumo entre sítios dependeram da diferença dos graus hora entre os arquivos climáticos: quando esta foi da ordem de 50 %, a diferença no consumo foi significativa, chegando a 8 %, quando a diferença dos graus hora foi menor que 10 %, não houve diferenças significativas no consumo entre sítios. Os consumos dos protótipos menos sensíveis às variações do ambiente externo apresentaram diferenças entre sítios somente relacionadas aos graus hora. Já a comparação do consumo de um arquivo TRY com os demais sítios e anos simulados apresentou diferenças significativas entre sítios de até 10 %, não apresentando variação entre os anos.